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problemas de amostragem; ao fazê-lo, é provável que tenham juntado pessoas do último
estágio evolutivo com outras situadas no sexto estágio; ou talvez no quarto, no quinto.
No espírito de uma experiência para ser vista , no sentido que lhe dá Claude
Bernard, nós mesmos passamos, além disso, às classificações que limitam a iluminação a
um estado não dual. Por outro lado, não tínhamos, na época, uma noção tão clara da não-
dualidade como temos hoje; isso nos permitiu incluir pessoas que tiveram experiências de
morte clínica, de sono, de meditação, de droga, de psicose, assim como casos fortuitos sem
causa aparente. No comentário que faremos a seguir, levaremos também em conta dados já
publicados em outros trabalhos a respeito dessa investigação. Isso nos permitirá precisar os
aspectos verdadeiramente transpessoais, quer dizer, não duais, situados para além do ego
de uma pessoa que observa um fenômeno interno ou externo.
Falaremos, de início, de todos os fenômenos encontrados nessas investigações;
sua classificação implica, com freqüência, aspectos teóricos cuja complexidade ultrapassa
os limites desta exposição e que assinalamos, em parte, em nossos trabalhos precedentes.
Limitar-nos-emos, a seguir, a expor aquilo que encontramos no âmbito das
características essencialmente transpessoais, em particular no que se refere à vivência da
Luz.
Comecemos, pois, por distinguir o que é transpessoal daquilo que não é.
Esse é o assunto da terceira parte desta exposição.
III- CRITÉRIOS DE IDENTIFICAÇÃO
DO TRANSPESSOAL
O que é verdadeiramente o transpessoal?
Podemos propor uma classificação muito simples para tratar este assunto. Ela se
faz necessária, pois é possível notar, atualmente, uma confusão muito grande entre
manifestações como: percepção extra-sensorial, mediunidade, lembranças de vidas
passadas, saída do corpo físico, estado de transe e tantas outras, e a iluminação ou o
transpessoal. Colocar em pé de igualdade um ser iluminado e um médium, um sensitivo, um
xamã, um curandeiro ou um astrólogo, é um erro tão grosseiro quanto confundir um
calculador-prodígio com Einstein.
É um engano compreensível, pois, como sabemos, todos os grandes místicos, sem
exceção, possuem capacidades parapsicológicas. Esses carismas ou siddhis se manifestam
de modo exterior, visível, ao contrário do que ocorre com o estado interior; portanto, o
público, conhecendo apenas os aspectos superficiais, impressiona-se de tal modo com eles
que esquece o essencial. As manifestações parapsicológicas dão-se como conseqüência da
amplificação do campo consciente, devido à dissolução das barreiras do ego e da passagem
para outro estado de consciência, de nível onírico.
Em todas essas manifestações, tal como no mundo físico propriamente dito,
subsiste ainda a relação sujeito-objeto; quando olho a folha de papel onde escrevo, há um
sujeito que observa o objeto chamado papel e que escreve à máquina sobre esse objeto; da
mesma maneira, se vejo um fantasma, um sonho, o futuro de uma pessoa, há um sujeito
que percebe. Sempre há, portanto, uma pessoa, um ego, tanto em psicologia como na
parapsicologia. No transpessoal essa distinção se evapora; o fantasma da separatividade
dissolve-se como uma miragem. Não quer dizer que o ser iluminado já não perceba os
fenômenos físicos ou parapsicológicos; mas, neste nível, não há mais nenhuma
discriminação ou julgamento relativo. Os fenômenos são o que são: aparências, como um
sonho ou um filme; tanto o sujeito como o objeto são apenas isso, sendo, também,
indissociáveis do espaço que compõem ou onde se localizam.
Assim, enquanto houver separação, discriminação, julgamento, observação,
constatação, encontramo-nos ainda no plano pessoal.
Quando deixa de existir qualquer discriminação sujeito-objeto, quando não há mais
nenhuma espécie de dualidade, incluindo-se a discriminação que fazem aqui entre pessoal
e transpessoaI, é que se torna reconhecível o verdadeiro transpessoal, que ultrapassa até a
discriminação entre relativo e absoluto. Eis por que, como veremos adiante, é melhor
empregar o termo holística .
Em rigor, não se pode falar sequer de experiência ou de vivência holística do Real,
se o sujeito não puder mais distinguir-se desse Real, deixando de ver-se como objeto da
experiência ou da vivência. Na realidade, é o espaço que se percebe a si mesmo; trata-se
de uma espécie de autoscopia do Ser, ou daquilo a que denominamos holoscopia: o Ser
contempla a si mesmo no momento em que pensamos que olhamos um objeto ou uma
pessoa...
Isolamos, numa de nossas pesquisas,7 através de um processo estatístico
chamado análise fatorial , quatro tipos de manifestações:
- Fenômenos de percepção proprioceptiva;
- Fenômenos de percepção exteroceptiva;
- Fenômenos parapsicológicos;
- Descrições de ordem transcendental.
Só estas últimas podem ser consideradas verdadeiramente transpessoais.
Numa outra abordagem,8 submetemos a uma análise de conteúdo 153 relatos ou
testemunhos, tendo sido classificadas 1802 frases em 107 categorias diferentes.
Às quatro classes de pesquisa anterior, acrescentamos fenômenos de saída do
corpo físico, fenômenos afetivos e eventos posteriores à primeira experiência.
Teríamos de alongar-nos demais, se abordássemos as dezenas de categorias que
compõem cada uma dessas classes. Limitar-nos-emos a relacionar aquelas que
consideramos especificamente transpessoais, tentando dar a cada uma definição
operacional que permitirá que a identifiquemos nos testemunhos.
- Sentimento da dissolução do eu: A pessoa apercebe-se do caráter ilusório do
ego e de sua identificação com o corpo físico.
- Vivência não dual: Desaparecimento da distinção entre o eu e o mundo exterior,
ou entre aquilo que está dentro e o que está fora . Sentimento de unidade
com o todo, de uma continuidade subjacente à aparente descontinuidade.
- Inefabilidade: Não há palavras para descrever a vivência. Constata-se que toda
palavra limita sua real amplitude.
- Realidade: Convicção indiscutível da absoluta realidade da experiência, que é
bem mais real do que a vivência do cotidiano.
- Atemporalidade: Descoberta do caráter relativo das três dimensões temporais.
O tempo deixa de existir; horas e dias podem parecer minutos.
- Caráter paradoxal: A lógica formal é ultrapassada - o vazio não é vazio, o todo
está em toda parte, as coisas existem e ao mesmo tempo não existem, etc.
- Aconceitualidade: O pensamento conceitual é experimentado como um
obstáculo e não consegue acompanhar a vivência. Esta é apreendida
instantaneamente, sem nenhum conceito.
- Presença: Sentimento de uma onipresença, difundida em toda parte ao mesmo
tempo, não sendo interior nem exterior. E uma presença percebida como
sagrada ou divina.
- Lucidez completa: Vive-se nos dois planos, o do Absoluto e aquele dos
fenômenos, ultrapassando-se essa dicotomia. Tudo é vivido, nada escapa à
percepção.
- Movimento cósmico: Em razão do caráter atemporal da experiência, há uma
apreensão imediata dos ciclos cósmicos, bem como da sua feição relativa.
- Espaço aberto: A vacuidade espacial é vivenciada não como vazia, e sim como
algo que compõe todos os fenômenos, mesmo as manifestações mentais; é um
espaço sem fronteira alguma.
- Luz: Vivência de uma luminosidade infinita que engloba tudo, por vezes
designada como o verbo ou o amor, e que se toma, eventualmente, insuportável
e cegante.
- Luminosidade do corpo físico: O corpo do iluminado irradia uma luz percebida
por outras pessoas como uma fulguração deslumbrante.
- Instantaneidade: Quando se trata de uma vivência não permanente, a
experiência sobrevém de maneira súbita e imprevisível.
- Eventos posteriores à primeira experiência: Tendência ao desapego, mudança
de sistema de valores, perda do medo da morte, desenvolvimento do amor e da
compaixão.
Como dissemos, aparecem muitos outros fenômenos, em nossas análises e nas de
outros autores; mas são, todos eles, de natureza dualista, inclusive os referentes à visão de
espíritos, anjos, divindades, profetas e santos, ou a diferentes espécies de revelação.
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